Prece
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Fernando Pessoa
in: Mensagem-Colecção Poesia-Edições Ática - pg 75
Continuando a folhear o livro chego à última página e encontro este lindo poema, o último, na página 106, tão cheio de significado e que parece viajar no tempo, depondo perante os nossos olhos as ânsias que nos consomem:
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
»»»»
A imagem que considero magnífica retirei-a da internet. Os meus agradecimentos a quem ela pertence.
Entro em "bicos de pés", e dirijo-me ao genuflexo, porque a poesia de Pessoa, para mim, é um altar sagrado, e jamais hei-de profaná-la!
ResponderEliminarO último poema, doloroso, e tão próximo do "real", de uma realidade destruída por mãos que não sabem honrar a sua origem. Mas hoje fiquei feliz com uma notícia, transmitida por uma pessoa querida, dessa vossa terra tão minha amada, que aqui transcrevo:
"Foi assinado hoje entre os ministros dos negócios estrangeiros de Portugal e Brasil o reconhecimento do curso de engenharia dos dois países e livre circulação de trabalhadores", que seja um caminho para esses laços genéticos se fortalecerem.
Beijos, querida amiga!
Fernando Pessoa é mestre na arte de fazer poemas com uma mensagem alem da beleza dos próprios versos.
ResponderEliminarFez uma boa escolha.
Lúcida, inteligente e oportuna maneira de assinalar o Dia de Portugal e de Camões. Sempre certeira e sensível.
ResponderEliminarE a imagem também não podia mais apropriada. E é, de facto, magnífica, Olinda.
Beijinhos e tomara que seja mesmo a hora... ou que já não falte muito!
Parabéns pelo post, muito bom no seu conjunto.
ResponderEliminarBom resto de semana
Querida Olinda
ResponderEliminarVoltei por não me parecer ter fixado o meu texto. E não, infelizmente!
Repentista sai-me mais fiel o sentimento que o momento desperta.
Não consigo competir com o Mestre, mas sempre posso alinhar nos sentimentos que exprime, sempre actuais, presentes e desditosos.
A tua escolha é pertença da Pátria que (ainda) somos e que muito nos dói ver o seu caminho. Desejaríamos poder dizer, "[...]outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!"
D. Sebastião deixou-nos entre nevoeiros, pelo que os novos donos da Pátria não enxergarão nada para além deles.
É pena! Estamos em riscos de nos perder e deixar de ter Pátria Portuguesa; até a Língua se vai desvirtuando...
Beijos
SOL
Querida Olinda
ResponderEliminarAgradeço, agora individualmente, a tua presença e as tuas palavras que me ajudam a encarar com mais calma a enorme perda que sofri. Já passou um ano… mas parece que foi ontem.
Não tens que te desculpar por não teres vindo exactamente no dia 6. A tua presença é o que conta, tu sabes, e para mim é muito importante. Tanto como a tua amizade.
De facto o Amor, quando é grande e verdadeiro, ultrapassa todas as barreiras – até aquela que parece intransponível!
Terei que continuar por cá até que Deus queira. Depois, espero que se dê o reencontro.
Obrigada pelo teu carinho, minha querida.
Beijinhos
Tratando-se de Pessoa acontece-me o mesmo que refere a Val, de «Canto da Boca» - apetece entrar em bicos de pé e não perturbar o clima de catedral que se sente.
Quanto ao "É a hora" só posso dizer: Ámen!
PS – A minha próxima postagem será no dia 14, como habitualmente.
Minha querida amiga,
ResponderEliminaro nosso Pessoa e a MENSAGEM...meu território, minha vida e até profissão.
Neste momento, abrigar-me no teu Xaile e ler esta edição fez-me muito bem.
Beijinho
É hora de dissiparmos este nevoeiro que nos turva o coração e que nos entristece; o tempo também parece que chora pelo destino que está a ter o nosso Portugal; o sol mal aparece e logo se esconde; está como o povo...sempre com receio do que virá amanhã.Há uma insegurança tamanho, como eu não me lembro de ber. Obrigada, Olinda por este belo momento de poesia. E vamos lá...fazer o que pudermos para afastar este nevoeiro e deixar que a luz entre nos nossos coraçãos. Não está fácil. Um beijinho, amiga!
ResponderEliminarEmília
Olá Olinda,
ResponderEliminarFernando Pessoa meus aplausos, poeta um dos meus favoritos. Uma bela prece. A imagem é divina, combinação perfeita com o poema.
Adorei minha amiga!
Deixo um grande beijo em teu coração.
Querida amiga
ResponderEliminarSempre que dirigimos
os nossos pensamentos,
ao que acorda sentimentos bons
em outras vidas,
cada palavra escrita
é uma espécie de oração.
Que teu coração seja o céu
onde as palavras possa voar
buscando a esperança.
Ficaremos a espera
e torcendo por sua recuperação.
Minha querida
ResponderEliminarVoltando (ainda devagar), mas com muitas saudades e agradecendo o carinho deixado durante a minha ausência.
adorei encontrar aqui Pessoa que é imortal.
Um beijinho com carinho
Sonhadora