o soneto 'amor é fogo', de Camões, trazido pela autora do blog divagarsobretudoumpouco suscitou comentários e reacções poéticas lindíssimos. um destes instantes diz respeito ao conto deixado por Bartolomeu e que eu tenho o maior prazer em publicitar aqui. trata-se de um tema que versa sobre aquele encantamento da pré-adolescência/adolescência, em que tudo tem a dimensão do próprio mundo. presumo que todos nós passámos por momentos mágicos como este.
Há muitos anos... há tantos, que os meço já numa escala de eternidade, frequentava o meu secundário, quando conheci uma coleguinha linda e... enamorei-me.
Mas, de tão linda ser, mesmo sem nada por isso fazer, por ser natural a sua beleza, captava a atenção e o interesse de mais uma equipe de outros enamorados.
Todos os enamorados, talvez copiando os rituais de sedução de algumas aves, exibiam os seus dotes físicos, aprimoravam-se nas vestimentas e nos galanteios e desfilavam em frente à jovem diva, enviando sorrisos, piscar-de-olhos e, os mais atrevidos, mandavam beijinhos por via aérea, com a finalidade de conquistar tão belo exemplar feminino.
Eu,fazia parte da estatística, sem contudo fazer parte da lista dos exibicionistas. Olhava mais de longe e arquitectava mentalmente, fórmulas de aproximação e sedução, sem me decidir por aquela que me parecesse a mais apropriada e infalível.
Eu morava em Algés e com frequência viajava na mesma carruagem do comboio, onde a musa continuava depois de me apear.
Um dia, quase a chegar à minha estação, decidi resolutamente aproximar-me e... sem mais nem porquê, recitei para a minha musa, de seguidinha, estas quadras do Luís Vaz com que nos presenteias.
Ela, escutou sentada, com as mãos abraçadas sobre o regaço e os olhos fixos nas mãos. Eu, recitei de cor, sem ouvir o que estava a dizer. O comboio, parou com um solavanco, acordando-me do sonho que sonhei que sonhava, e saí num atropelo, antes que as portas se fechassem. Na gare parei, desorientado, tentando identificar a janela em frente ao banco onde ela se sentava. O comboio iniciou a marcha, o meu olhar saltou sôfrego de janela em janela, até a encontrar, sentada onde a deixei momentos antes, mas agora, tinha o rosto erguido e voltado para a janela... quando encontrou o meu, sorriu.
Senti o impulso de correr atrás do comboio, de o mandar parar, mas as pernas, os pés não se moviam, pareciam colados ao empedrado da gare. Já o comboio ia lá ao fundo, quando dei o primeiro passo, ainda com a sensação de estar a meio caminho entre o céu e a terra. Só depois senti a alegria imensa, a euforia que aquele sorriso provocou em mim.
No dia seguinte, na escola, fiz os possíveis para me cruzar com ela nos corredores, nos intervalos das aulas. Da primeira vez, trocámos desejos de bom dia e sorrimos. Das vezes seguintes, trocámos olás. Ao final do dia de aulas, esperei por ela a meio do percurso entre o liceu e a estação dos comboios, perguntei-lhe se a podia acompanhar, respondeu que sim; inventei uma conversa atabalhoada, sem jeito. Ao chegar à minha estação despedimo-nos com um olhar mais intenso e um até amanhã que soava a um "não vás" e a um "não quero ir"...
Mas, fiquei a dever a Camões aquele namoro edílico, que quase me remeteu para angústia daquele outro soneto:
alma minha gentil que te partiste
tão cedo desta vida descontente...
Bartolomeu
Minha querida
ResponderEliminarQuanta doçura neste texto...como as recordações doces que ficam do despertar do corpo e sentir a primeira paixão.Lindo.
Deixo um beijinho com carinho e desejo um bom fim de semana.
Sonhadora
olá, Sonhadora
Eliminaré como diz, recordações doces que nos acompanham pela vida fora.
beijinhos e retribuo os votos de bom fim de semana.
olinda
Olinda, é com um toque de nostalgia que leio este depoimento de alguém que amou, com um dos amores mais lindos.
ResponderEliminarO amor de um colegial que tantos ainda querem reviver mesmo após se tornarem adultos.
E o que há de mal? É lindo e romântico tal sentimento.
Há inclusive quem se apaixone nesse período por sua professora.
Lembrei-me agora de uma canção do Hot Chocolate chamado It Started With A Kiss, onde se fala justamente desse amor tão lindo, glamoroso e romântico.
Um abraço, um beijo do amigo e leitor.
amigo Antônio
Eliminaré dos amores mais lindos e puros, que nos aconchegam a alma mesmo depois de muitos anos. Diz bem: lindo e romântico...
um grande abraço e um bom fim de semana.
olinda
Olá Olinda,
ResponderEliminarGostava tanto de aqui participar mas nem sei como. Tenho escrito tantas coisas sobre o amor que nem sei como escolher. Quer a Olinda repescar um qualquer texto à sua vontade e inseri-lo aqui, onde melhor entender? Ou isso é uma trabalheira e prefere que lhe envie eu o link para um qualquer dos meus textos?
Diga-me como prefere, está bem? É que eu gostava de lhe deixar aqui uma lembrancinha, um bocadinho de mim.
Um beijinho.
olá, minha amiga
Eliminarfiquei contentíssima com estas suas palavras. vou adorar ter um dos seus lindos textos aqui no 'xaile com pérolas'.uma lembrança preciosa...a dificuldade, da minha parte, estará na escolha. aguardo um link seu, sim? deixei-lhe um recado no ginjal.
beijos
olinda
Olinda amiga:
ResponderEliminarEsta história de um 1º amor é linda. Quantos a vivemos? Quantos de nós, sentimos um amor assim? Acho que muitos. Um olhar, um sorriso, uma palavra, um roçar de dedos leve e envergonhado... Amor de adolescente, puro e belo. Podemos até esquecê-lo. Mas um dia, ele volta à nossa cabeça e, sentimos dentro de nós, a pureza e o encanto dele.
Parabéns e obrigada ao Bartolomeu. Lembrou-me... não é difícil adivinhar, pois não?
Beijinho Olinda.
Maria
tem razão, querida Maria, uma história lindíssima. o nosso amigo Bartolomeu tem esta arte de escrever textos sobre variados assuntos e todos com esta qualidade... de uma sensibilidade enorme.
EliminarAmor de adolescente, sim é isso! deixa a sua marca, numa saudade indelével e sempre recordado com ternura.
sim...não é difícil adivinhar... (sorriso)
beijinhos
olinda
Poruqe será que nunca se esquece o primeiro amor? Porque será que, geralemnte, acaba em lágrimas?
ResponderEliminarBom fim de semana, carissima
querida São
Eliminarnão se esquece, normalmente acaba em lágrimas e recordado entre sorrisos de ternura...
bj
olinda
Olinda, minha Amiga, talvez por modéstia, ou então, por falta do que dizer a mais do que já tinha escrito, não me atrevi a comentar este post. Se o tivesse feito, seria somente para concordar com os generosos comentários que foram postos.
ResponderEliminarA causa porque efectivamente comento, prende-se com a forma das tuas respostas aos comentários. Por aquilo que me apercebo, já escreves com acentos e maiúsculas. Espero sinceramente que estes sinais sejam de melhoras do ferimento que sofreste.
Estou certo?!
;)
caro Bartolomeu
ResponderEliminaro teu texto é de um lirismo imenso. o que me faltam são palavras para exprimir o quanto admiro a tua forma de escrever.
a mão já quer voltar à normalidade embora ainda muito condicionada. com a esquerda vou-me obrigando a recorrer às maiúsculas e aos acentos. nem sempre dá mas tenho de me ir habituando...
obrigada por teres aqui vindo saber do meu handicap, penso que provisório (muitos smiles)
grande abraço
olinda
´..oh, provisório não, temporário... -risos-
Eliminarvenho sempre atrasada :)))ai, céus esta vida apressada!!!!
ResponderEliminarjá tinha lido, confesso, mas escrever não dava tempo
e agora que digo eu?
que este texto me comoveu?
sabes Bartô, recordo nos olhos meus, todos os dias
ainda um pouco destas "especiarias"!
lá numa das escolas onde anda minha pessoa
tem desta cena, coisa boa...
eles não entendem ainda
mas já vejo a lagriminha a luzir
e um dia o coração a sorrir!!!:)
obrigada meu amigo!!!
o texto é um "poema" com todo o sentido!
:))))
beijo e restinho de bom domingo
Querida Bailarina
EliminarSão dores de crescimento, esse mal de amor, não é? o coração ainda é pequenino mas ama à sua medida :) Razão tem o ditado que reza: o amor não escolhe idades.
grata pela tua presença sempre tão airosa.
Beijinhos
Olinda
Olinda
Que bela história, uma memória linda a que o Bartolomeu nos trouxe.
ResponderEliminarA adolescência é um precioso tempo de descobertas, de escolhas, de porvir(es), o mundo está sob os nossos pés, e o tempo é nosso aliado, ainda estamos escrevendo as histórias, e tudo pode ser refeito sem tantos prejuízos. E a marca indelével do 'primeiro amor', da 'primeira paixão', estará conosco ad eternum, não necessariamente com dor, ou com um saudosismo sofrido, não, apenas parte de um capítulo da nossa escrita de vida, que foi muito bem descrito pelo Bartolomeu.
Beijo, querida Olinda!
;)
Minha querida
EliminarTenho tido estes dias experiências maravilhosas, com os textos sobre este sentimento maravilhoso que é o Amor. Este do Bartolomeu remete-nos para aquela faixa etária das urgências, em que o mundo acaba se não corrermos logo atrás do sonho e tudo é sentido com uma veemência muito peculiar.Mas é como dizes o tempo das descobertas e das escolhas e ele está realmente a nosso favor ...
Beijinhos, amiga.
Olinda