domingo, 16 de outubro de 2011

Somos a Alegria o Corpo o Sal da terra


Somos a alegria o corpo o sal da terra
o sol das manhãs férteis a música do outono
a própria essência do amor a força das marés
somos o tempo em marcha



Esta é a única verdade
sabemos que vos é difícil aceitá-la
envoltos como estais em suborno e usura
bancos alta finança empréstimos externos
E no entanto esta manhã um pássaro
pousou à vossa beira embora
inutilmente
A pequena dactilógrafa matou-se
nós sabemos porquê

Um carpinteiro desempregado rasgou a roupa
e saiu cantando para a rua
nós sabemos porquê

Uma noite
a jovem costureira não voltou para casa
nós sabemos porquê

Um poeta
roeu as unhas enquanto foi possível
mas faltou-lhe a coragem no momento derradeiro
nós sabemos porquê


Nós sabemos porquê

NÓS SABEMOS PORQUÊ


E no entanto é doce dizer pátria
sonhar a terra livre e insubmissa
inteiramente nossa
Sonhá-la como se pedra a pedra construíssemos 
Como se nada houvesse antes de nós
e desde as fundações a erguêssemos completa
pura alegre acolhedora virgem
de medos mortos insepultos

Regresso pelo tempo ao dia de hoje
primeiro de Maio de 1962
hora segunda da meditação



Daniel Filipe
1925-1964
Poeta caboverdiano

AQUI


Poema retirado do:
Banco de poesia
Casa Fernando Pessoa

40 comentários:

  1. Olinda, embora não conheça os poemas do Daniel Filipe, estou tendo o prazer agora; mas sinto nele um sentimento que a mim diz muito nesse momento de minha vida...
    Por isso é maravilhoso esse dom de externar com as letras, palavras, versos e poemas, nossos sentimentos.
    Ele tocou-me porquê lembrei de minha terra e quando lá estive. No momento estou a sonhar, reconstruindo pedra sobre pedra em minha vida daquilo que almejo.
    Quero deixar um fraterno abraço, e um beijo.
    Este leitor que aprecia este recanto.

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  2. Uma forma actual de colocar o "Sermão da montanha", proferido por aquele rapaz da Galileia, à cerca de 2.000 anos.
    «Vós sois o Sal da Terra e a Luz do Mundo»

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  3. Olinda
    Conhecia o Poema e, soube-me bem voltar a lê-lo.
    Tão actual, tão verdadeiro.
    Obrigada, amiga, por este oásis num dia muito triste. Perdi um grande amigo. Morte esperada, diria desejada, porque ele sofreu muito. Mas a morte é tão definitiva que sofremos sempre.
    O poema é verdadeiro e triste mas, fez-me abrir os olhos para o egoísmo do meu desgosto.
    Um beijo
    Maria

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  4. Não conhecia ESTE poema: grata pela partilha, querida.
    sabes? Andei umas boas semanas sem conseguir colocar um comentáriono teu blo: até fiz saber isso a vários bloggers conhecidos.
    Voltar aqui e poder dizer o quanto és especial...é um privilégio.

    Bj terno

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  5. Custa a crer que tenha sido escrito há mais de 30 anos. Parece que foi escrito para o momento atual.
    Um abraço

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  6. Olá, Antônio

    Eu também não conhecia muito deste poeta. Foi por acaso que encontrei este poema no Banco de Poesia-Casa Fernando Pessoa. Surpreendi-me com a sua sensibilidade e a leitura que fez do seu tempo, que se adapta, praticamente, aos tempos que vivemos hoje em dia.

    Desejo que alcance aquilo que mais deseja e que essa reconstrução da sua vida lhe traga muitas alegrias.

    Grande abraço.

    Olinda

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  7. LINDO este poema.
    Bela poesia.
    O livro ja seguiu para o destino, espero que fique feliz na nova casa.
    depois diz se chegou só quero que envies quando ele chegar ao destino
    beijinhos

    nib 001800002990462600170

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  8. Caro Bartolomeu

    O Rapaz da Galileia também dizia, num trecho do Sermão da Montanha, 'Bem-aventurados os sãos de Espírito porque deles é Reino dos Céus'.E é disto que precisamos: de pessoas sãs de espírito que descubram caminhos conducentes a soluções com resultados positivos.É bom, nesta altura da vida nacional,inspirarmo-nos em ideias e ensinamentos, longínquos que sejam, para reforçar valores que parecem esquecidos.

    Grande abraço.

    Olinda

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  9. Querida Maria

    Com o meu portátil e computador fixo avariados, só agora me é possível deixar-lhe aqui os meus sentimentos e um grande, grande abraço de consolo pela perda do seu amigo.Ontem à noite quando publiquei o seu comentário quis fazê-lo mas não consegui.

    E não vejo egoísmo nenhum na sua dor. Como seres humanos, primeiro sentimos a perda daqueles que nós amamos e que estão por perto e depois lançamos também o nosso olhar de compaixão para o que nos rodeia.

    Irei visitá-la em breve...

    Beijinhos

    Olinda

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  10. Boa noite Olinda!
    Gosto muito dos poemas de daniel Filipe poeta caboverdiano, esse em especial.
    Beijo e boa semana pra ti.
    Com carinho,
    Mara

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  11. Não conhecia esse poema Olinda. Muito bonito! Obrigada por compartilhar. Beijos e ótima semana.

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  12. meditação... para caminhar...

    abrazo serrano

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  13. Querida Blue Shell

    O problema nos blogs dura há algum tempo, é verdade. Esperemos que tudo volte ao normal. Pelo menos, há já dois dias que não noto nenhuma movimentação 'adversa' :)

    Obrigada por me dedicares palavras tão carinhosas.É um prazer imenso ser tua leitora e encantar-me nos teus versos tão inspirados.

    Beijos

    Olinda

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  14. Olá, Elvira

    É uma grande verdade, um poema escrito há tanto tempo e quase que descreve momentos actuais e, porventura, momentos que hão-de vir se não tivermos o cuidado de os impedir.

    Beijos

    Olinda

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  15. Olá , Lili

    Minha querida, acho que o teu livro vai se enquadrar muito bem e vai fazer feliz uma menina amorosa, a minha afilhada.

    OK.Logo que receba notícias da sua chegada digo-te.

    Muito obrigada.

    Beijos

    Olinda

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  16. Olá, Mara

    Foi no teu blog que tomei contacto com Daniel Filipe, pela 1ª vez.Assim, quando encontrei este poema identifiquei-o logo. :)

    Muito obrigada.

    Beijos

    Olinda

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  17. Querida Smareis

    Eu também gostei muito deste poeta e do seu poela pela força das suas palavras.

    Beijos

    Olinda

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  18. Smareis

    Rectificação: 'poema' :)

    Bj

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  19. Tem razão , Mixtu, meditando e...caminhando na busca de novos ideais.

    Abraço

    Olinda

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  20. Olá, Bartolomeu

    Obrigada pelo teu comentário e pelo 'Eureka'.

    :)

    Olinda

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  21. Tenho um fascínio especial por este poeta que tão cedo partiu. Este poema é uma excelente escolha.

    Beijinho

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  22. Belo poema...Espectacular....
    Cumprimentos

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  23. Não conhecia este poema, no entanto todos nós conhecemos o tema, porque, infelizmente ele é um retrato fiel dos dias de hoje, dias de angústia que levam muitos ao desespero.Ás vezes custa-nos a entender esse desespero louco que leva a atos impensados, mas como diz Pessoa não sabemos "como é por dentro outra pessoa" e por isso não entendemos. Lindo poema...triste constatação...passam-se os anos e nada muda...o ser humano continua o mesmo...sem se preocupar com o essencial, sem se preocupar com o SER. Um beijinho, amiga e obrigada pela partilha . Fica bem, amiga!
    Emília

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  24. Não se viste que tenho um outro blogue, Brasil & Cabo Verde? Ando bem ausente dele, mas a sua postagem do poema do Daniel Filipe, foi o mote para eu atualizá-lo!

    Um beijo grande!

    ;)

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  25. Nós sabemos, muito bem, o "porquê",...há
    muito e muito tempo. Esses "desabafos",
    em forma de poesia, vem de longe, daí a
    atualidade desse "fiel retrato" da triste
    realidade (des) humana...Não conhecia o poeta caboverdiano, que teve a vida tão curta mas tão
    intensa, deduz-se, nas palavras e, provavelmente, nas ações sociais.

    Obrigada, por nos trazê-lo!
    Um beijo
    da Lúcia

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  26. Boa noite, querida amiga.

    O poema dele é lindo.
    Um grande idealista!

    Tenha uma bela noite de paz e alegrias.
    Beijos.

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  27. Cara Olinda,lindo, lindo poema. Tanta força nestes versos! Gostei muito!
    bjs

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  28. Tem razão, Ana, um poeta que partiu tão novo, com muita coisa ainda para dar...

    Beijos

    Olinda

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  29. Olá, Chana

    Muito obrigada pela visita e comentário.

    Volte sempre.

    Abraço

    Olinda

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  30. Querida Emília

    Sábias palavras, Emília. Na verdade, parece que se confirma o princípio cíclico da História. Encontram-se a cada passo, na Literatura, em passagens da História, situações que parecem decalcadas de outras do passado.Os erros, as más avaliações do passado de nada servem, como exemplo, no sentido de se proceder doutro modo. Enfim, tenhamos fé de que algo possa mudar...

    Beijos

    Olinda

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  31. Canto da Boca

    Minha querida

    Sou seguidora desse teu outro blogue e hei-de lá ir ver as novidades. Ando um bocado desaparecida porque tenho tido dificuldades em postar comentários. Para ajudar nesta minha frustração
    o meu computador está numa lentidão que só visto. Nem o portátil me vale, está no técnico para ver de que é que ele padece... :( Só sairá de lá daqui a uns tempos pela certa.

    Beijinhos

    Olinda

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  32. Olá, Lúcia

    O tempo passa e tudo parece na mesma, não é? Poetas, escritores, historiadores, vão registando momentos que deveriam servir-nos para reflexão.Aliás,a História é uma disciplina de que, quase, não se ouve falar, em termos práticos. Contudo, a sua função seria a de conhecer o passado para compreender o presente e podermos planear o futuro. Penso que estamos num estádio tal que temos de parar para reflectir sobre o caminho a seguir...

    Vou visitá-la em breve.

    Beijinhos

    Olinda

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  33. Querida Amapola

    Sim, um poeta com uma escrita na qual nada fica por dizer.

    Tenha também uma boa noite.

    Beijos

    Olinda

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  34. Histórias de Nós

    Realmente um poema lindíssimo com uma força imensa.

    Beijinhos

    Olinda

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  35. Minha querida

    Este poema é de uma beleza e profundidade sublimes...e tão actual ainda e cada vez mais infelizmente.
    Adorei reler e deixo um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  36. LIndo poema Olinda!
    Ainda hj estive pensando nisso...por quê, cadê, onde, quando....
    Beijos e boa noite!!!

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  37. Bravíssimo esse poeta! Palavras fortes e verdadeiras, aliás, verdades das quais tanto necessitamos!

    Bjs!!

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  38. Amiga Olinda lindissimo poema, não conhecia o poeta, obrigado pela partilha.
    Bom fim de semana.
    beijinhos
    Maria

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  39. Venho deixar um abraço apertado...
    BShell

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