No seu afã de defender a portuguesa língua de influências estranhas e incentivando a escrita em português, António Ferreira escreve uma carta apaixonada a Pêro Andrade de Caminha. E dessa carta, não há dúvida, este excerto é deveras empolgante. Mal sabia ele que ao longo dos tempos esta língua iria ter experiências jamais sonhadas. Acompanhara os navegadores, estabelecera-se além-mar e quando voltou vinha cheia de requebros, dengosa, macia, tropicalíssima. E agora, tal como a cantiga da rua, ela não é de ninguém é de toda a gente. Parafraseando Chico Buarque, ela ainda vai cumprir seu ideal.
Floreça, fale, cante, ouça-se e viva
A Portuguesa língua, e já onde for
Senhora vá de si soberba, e altiva.
Se téqui esteve baixa e sem louvor,
Culpa é dos que a mal exercitaram:
Esquecimento nosso, e desamor.
Mas tu farás, que os que a mal julgaram,
E inda as estranhas línguas mais desejam,
Confessem cedo ant'ela quanto erraram.
E os que depois de nós vierem, vejam
Quanto se trabalhou por seu proveito,
Culpa é dos que a mal exercitaram:
Esquecimento nosso, e desamor.
Mas tu farás, que os que a mal julgaram,
E inda as estranhas línguas mais desejam,
Confessem cedo ant'ela quanto erraram.
E os que depois de nós vierem, vejam
Quanto se trabalhou por seu proveito,
Porque eles para os outros assi seja.
António Ferreira -Sec.XVI
Excerto da carta de António Fereira retirado de:
Como dizia F. Pessoa - A minha Pátria é a língua portuguesa.
ResponderEliminarExcelente escolha numa época em que a Língua Portuguesa tem sido tão maltratada, tão desvirtuda!
ResponderEliminarUm beijo e bem haja pelas suas tão simpáticas palavras.