segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

SAL NA LÍNGUA


“Na roça com os tachos”, João Carlos Silva deliciou-nos em tempos com a sua arte de comunicar e tanto nos fazia saborear as palavras, lendo-nos poemas, como criava em nós a vontade de participar das paisagens idílicas de São Tomé e Príncipe. Penso que os pratos que ele preparava eram apenas acessórios.
Ei-lo de novo, agora no programa “Sal na Língua”,RTP, com o objectivo de percorrer os 8 países da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), dando a conhecer usos e costumes de cada um e, em especial, a gastronomia.
Os caminhos da Lusofonia são infinitos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

DEMOCRACIA

As eleições presidenciais ocorreram no passado domingo e ainda se ouvem os ecos do que se passou nesse dia e também na pré-campanha e campanha. Exercemos o nosso direito de voto e os resultados foram conhecidos. Mais uma vez escolhemos livremente um representante da nação. E isso é coisa de que nos devemos orgulhar. O facto de continuarmos a debater o que foi dito e o que não foi dito também é sinal de que vivemos em democracia. A palavra é a nossa arma e através dela chegaremos ao diálogo e ao entendimento. As dificuldades que atravessamos não são poucas mas convençamo-nos de que as ultrapassaremos. Temos de valorizar aquilo que somos: um povo com muitos séculos de História, com provas dadas de uma grande maturidade. O caminho que trilhamos é o caminho certo.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

MILAGRES

Este poema de Walt Whitman é uma inspiração para mim. Não preciso andar à procura de milagres, pois eles estão à minha volta e à minha disposição. Basta olhar e apreciar:Cada momento de luz ou de treva, o mar, os peixes nadando, o movimento das ondas”. Estes milagres também estão presentes no meu relacionamento com os outros e na forma como valorizo todas as facetas do meu quotidiano. Leiamos o poema:

Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direcção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem
                                                                    /amo,
ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim,
ou siga as abelhas atarefadas
junto à colmeia antes do meio-dia de verão
ou animais pastando na campina
ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar,
ou a maravilha de um pôr-de-sol
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,
ou o estranho contorno delicado e leve
da lua nova na primavera,
essas e outras coisas, uma e todas
— para mim são milagres,
umas ligadas às outras
ainda que cada uma bem distinta
e no seu próprio lugar.

Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende, cada pé
do interior está apinhado de milagres.

O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?


Walt Whitman, in "Leaves of Grass"
-citador-

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

GUARDADOR DE REBANHOS

Alberto Caeiro considerava-se um guardador de rebanhos, sem rebanho, homem simples que privilegiava as coisas naturais da vida. Vejamos este poema desconcertante:
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...


domingo, 23 de janeiro de 2011

SÍSIFO

O pedregulho vinha de supetão e caía-me em cima. E rolava, rolava até ao fundo. E lá tinha eu de o empurrar até ao cimo. Não tinha bem a noção donde vinha aquilo. Também não sabia por que tinha de ser eu a ter aquele trabalho todo. Já estafada, vejo que já é a jangada de pedra de Saramago. A coisa escangalha-se e começa a cair aos bocados. Não conseguia desligar-me daquilo e estava a ver que tinha de ser eu a juntar os bocadinhos todos e continuar a empurrar…nisto, acordo com o coração aos saltos e a suar em bica. Uff…



sábado, 22 de janeiro de 2011

DESASSOSSEGO

Inquietude é o que eu sinto quando a palavra desassossego me vem ao espírito. Também me atrai. Dá-me vontade de fazer coisas, saltar do sofá, ir à janela e espreitar o mundo, decidir coisas, isso, tomar decisões, fazer escolhas… O tempo é de decisões, qual delas a mais difícil. Por isso mesmo já decidi. Está na hora de ler “O Livro do Desassossego” e não confiar apenas em citações e passagens fora de contexto. Ver in loco o que Bernardo Soares teria querido dizer com:
 “Ah! Como eu desejaria lançar ao menos numa alma alguma coisa de veneno, de desassossego e de inquietação. Isso consolar-me-ia um pouco da nulidade de acção em que vivo. Perverter seria o fim da minha vida. Mas vibra alguma alma com as minhas palavras? Ouve-as alguém que não sou só eu?”