Se me quiseres conhecer,
estuda com olhos de bem ver
esse pedaço de pau preto
que um desconhecido irmão maconde*
de mãos inspiradas
talhou e trabalhou
em terras distantes lá do Norte.
Ah, essa sou eu:
órbitas vazias no desespero de possuir a vida.
boca rasgada em feridas de angústia,
mãos enormes espalmadas,
erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
corpo tatuado de feridas visíveis e invisíveis
pelos chicotes da escravatura...
Torturada e magnífica.
Altiva e mística.
Africa da cabeça aos pés
— Ah, essa sou eu!
Se quiseres compreender-me
vem debruçar-te sobre minha alma de Africa,
nos gemidos dos negros no cais
nos batuques frenéticos dos muchopes
na rebeldia dos machanganas
na estranha melancolia se evolando...
duma canção nativa, noite dentro...
E nada mais me perguntes,
se é que me queres conhecer...
Que eu não sou mais que um búzio de carne
onde a revolta de África congelou
seu grito inchado de esperança.
(1926-2002)
De volta às Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.
Desta vez trago Noémia de Sousa (Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares), considerada a Mãe da Literatura Moçambicana talvez por os seus poemas terem despertado consciências e acendido o diálogo com outras vontades e com o movimento da negritude, valendo-lhe ser presa e deportada para Portugal, juntamente com outros intelectuais moçambicanos. Viria a falecer em Cascais (2002).
É autora de um único livro de poemas, intitulado Sangue Negro, publicado apenas em 2001 pela Associação dos Escritores Moçambicanos, em homenagem ao seu 75º aniversário. O livro condensa a sua produção poética de 1948 a 1951. Os seus textos tinham sido publicados em jornais, como O Brado Africano, e em revistas, como a brasileira Sul. Mais aqui
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Poema - daqui
Poema que nos remete para uma intensa e profunda reflexão sobre o povo africano. Gostei muito de ler.
ResponderEliminar.
Uma semana feliz … Cumprimentos poéticos.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Maravilha de poesia e escolha! Gosto das poesias moçambicanas...Há tanto a conhecer de lá! Linda semana! beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminarUm grito poético de dor!
ResponderEliminarAbraço
Um grito de revolta de esta poeta que soube o que era o exílio e a injustiça.
ResponderEliminar"Torturada e magnífica.
Altiva e mística.
Africa da cabeça aos pés
— Ah, essa sou eu!"
Que mais acrescentar?
Tudo de bom para si, minha Amiga Olinda.
Uma boa semana.
Um beijo.
Excelente escolha, este poema de uma poeta que admiro há muito tempo.
ResponderEliminarAbraço, saúde e uma boa semana
Boa tarde de toda paz, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarFiquei encantada com a opressão da cor sentida na alma.
Um poema que expurga sentimentos de rejeição, de preconceito e outros tristes oriundos de tanta coisa abominável que os da raça negra têm que engolir (temos aqui no Brasil muitos traços mistos). Preconceito de todo tipo (não só de raça está em pleno vigor, mesmo com a "Abolição").
Você está cada vez melhor na escolha do que postar, amiga.
Dá gosto vir aqui e ler a cultura exalada pelos posts.
Tenha uma nova semana abençoada com bênçãos que necessite!
Beijinhos com carinho fraterno
Muito bom. Obrigada pela partilha!!
ResponderEliminar-
Existem pensamentos entrelaçados
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Beijos e uma excelente semana!
Versos fortes de coração sofrido. Inconformismo com realidade e injustiça. Belíssimo poema que traduz o sentir de muitos, ainda hoje. Grande abraço.
ResponderEliminarNossa, Olinda, que vigoroso poema. Não conheço a poesia de Noémia de Sousa. Que consciência da sua luta, quanta lucidez no poema. E como todo e qualquer poema é condensação, em único poema, Noêmia nos traz, numa síntese belíssima do ponto de vista estético, o que é a luta de África. Com quanta propriedade ela nos diz do seu lugar de fala que com "mãos enormes espalmadas, / erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça... / Essa sou eu..."
ResponderEliminarBela partilha,
Fraternal abraço, Olinda
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Olá, Olinda...
ResponderEliminarBonita postagem com um poema forte e belo.
O meu abraço neste início de semana...
Bello, fuerte y profundo poema. Te mando un beso.
ResponderEliminar"Abençoados os que dizem não,
ResponderEliminarporque deles deveria ser o reino da terra..."
J. Saramago in História do Cerco de Lisboa
Obrigada por partilhar tão linda poesia, Olinda
ResponderEliminarUm abraço carinhoso nesta quarta.
Verena.
Minha querida amiga... Um poema com sabor a terra entranhas de um povo sofrido. Não conheço a poeta, mas adorei. Um beijinho grande 😘
ResponderEliminarBoa noite lindo poema bjs
ResponderEliminarOlá, querida Olinda, o que diria eu?
ResponderEliminarQue triste, mas que belo poema onde expõe a sua dor, a dor da África!
Que povo para sofrer, mas até quando? Até quando vai se falar da miséria humana que está ainda exposta? Que ainda são feridas abertas!
Não conhecia a poeta Noémia de Sousa!
"Se quiseres compreender-me
vem debruçar-te sobre minha alma de Africa,
nos gemidos dos negros no cais
nos batuques frenéticos dos muchopes
na rebeldia dos machanganas
na estranha melancolia se evolando...
duma canção nativa, noite dentro..."
Gostei muito da biografia, fui no link,
sem dúvida deve terá outros poemas fortes
e que revelam sua vida, e vou procurar.
Uma feliz semana, querida amiga,
deixei uma resposta ao seu bonito comentário.
Beijinho!
Tinha lido um ou dois poemas da Noémia de Sousa, é uma grande poetisa. Mas vou ler mais.
ResponderEliminarEste que escolheu retrata a essência africana. Muito boa escolha.
Continuação de boa semana, amiga Olinda.
Beijo.
Boa tarde Olinda,
ResponderEliminarUm poema magnífico cheio de intensidade e profundidade de quem sentiu no corpo e na alma as injustiças e o sofrimento por ter uma cor diferente.
Não conhecia esta Poeta e como sempre saio daqui mais enriquecida pelo valioso contributo que a Olinda presta nestas suas tão oportunas escolhas.
Um beijinho e continuação de boa semana.
Ailime
É UM POEMA EXCELENTE, SOBERBO, MAGNÍFICO!
ResponderEliminarBeijinhos, Olinda.
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Um poema para ler e reler! Grata por mais uma tocante escolha! Adorei o poema, que muito bem interligado com o restante suporte informativo, tão bem nos contextualiza e condensa a vida e obra da autora!
ResponderEliminarBeijinho
Ana