Quando cheguei ao canal da RTP Memória, no Domingo à tarde, o filme já tinha começado. Pelas indumentárias consegui identificar a época e à medida que os diálogos iam avançando consegui aperceber-me do tema. Tratava-se de cerca de mil passageiros, 937, talvez judeus (não tinha ainda percebido bem) e pelas datas diárias que iam aparecendo em rodapé, vi que estávamos em Maio de 1939. Muita incerteza lavrava entre as pessoas mas a esperança de chegar a bom porto, Havana, como lhes fora prometido, fazia-as aceitar a situação mesmo sabendo que o futuro era incerto.
Em Havana, entretanto, decorriam conversas, conversações, negociações e negociatas em torno desses passageiros e aos poucos foi ficando evidente que não havia intenção nenhuma de os deixar desembarcar. Com efeito, o comandante do navio, Gustav Schroeder, alemão, homem com grande sentido do dever e da ética, não foi autorizado a desembarcar os seus passageiros. As dificuldades a bordo eram enormes com a concentração de tanta gente com os nervos e frustrações à flor da pele. O navio foi obrigado a sair das águas cubanas sem rumo definido. O comandante ainda chegou a verbalizar perante um dos passageiros, um médico famoso, que pensava provocar um acidente à aproximação do Canal da Mancha forçando à recolha e à aceitação dessas pessoas. Quando já estava tudo preparado para que isso acontecesse chegou a notícia, da parte do agente de ligação dos judeus alemães retidos no navio, que alguns países aceitavam recebê-los.
O destino destes seres humanos apanhados na voragem da segunda guerra mundial e da loucura desses dias, cuja data oficial viria a dar-se em Setembro desse ano com a invasão da Polónia, não será difícil de adivinhar. Pelo menos para a maior parte deles, os campos de concentração com a subsequente destruição da sua forma de vida, e da sua própria vida, foi uma certeza.
De referir que a viagem fora uma farsa. Os judeus foram metidos no navio pelos governantes da Alemanha-nazi para provar ao mundo que ninguém os queria, o que ajudaria ao seu extermínio, conforme é referido aqui.
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SINOPSE
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À medida que via o filme assaltava-me a imagem do Aquarius vogando pelo Mar Mediterrâneo com 141 pessoas a bordo, pessoas essas que ninguém queria receber. A Itália a fazer ver à Europa que para esse peditório já deu. Falava-se em Malta e Espanha que também se recusavam a recebê-las. E os outros países onde estavam? É certo que o assunto está resolvido, de momento. Chegou-se a um acordo de circunstância, creio eu, com o beneplácito da União Europeia. Portugal e outros países vão recebê-las ou já as receberam. E depois? Quais as soluções de fundo? Onde estarão os gabinetes de crise que deveriam ser criados para estudar com seriedade esse problema migratório?
Não queiramos que os vindouros nos acusem de desumanos daqui a uns anos quando alguém se lembrar de fazer um filme apresentando o Mar Mediterrâneo como o Mar da nossa Vergonha. Há uma certeza: a História julgar-nos-à.
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2ª imagem - net:
O navio SS St. Louis no porto de Havana
Aquarius - aqui
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