Em 1755, Lisboa seria a quarta maior cidade da Europa e a sua escala era acompanhada por uma ostentação ímpar. Os viajantes costumavam elencar o cortejo das raridades: a Igreja Patriarcal, com a sua legião de músicos e cantores, as joias da Igreja de S. Roque, o faiscar dos diamantes encrustados em toalhas, cortinas e paramentos, as alfaias forjadas em metais preciosos. No Paço da Ribeira - habitação do rei - havia tapeçarias da Flandres, tetos pintados por mestres italianos, porcelanas chinesas e uma biblioteca vastíssima. (...)
As famílias enriquecidas pelo comércio imperial compravam artigos de luxo às melhores lojas da Europa, relógios e baixelas de prata, bordados e porcelanas, não esquecendo a roupa das mulheres ricas, vestidas à francesa, com os seus caríssimos xailes e luvas de tecido oriental.
Era sobretudo o ouro do Brasil, chegado a Lisboa, o que permitia comprar os distintos casacos, as meias de seda e as cabeleiras de fabrico francês, os ricos móveis do Oriente, e o que permitia alimentar festas e sumptuosos fogos-de-artifício, para além dos monumentos majestosos, como a famosa e gigantesca Ópera, onde havia camarotes luxuosos e até uma porta para introduzir cavalos no palco. (...)
André Canhoto Costa, Recordar 1755, pgs 40,41
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Faltavam apenas dois meses para o ano seguinte. Mas, como diz o ditado, o homem põe e Deus dispõe. O terramoto viria abalar irremediavelmente o status quo em vigor. Acontecera o impensável, o que abalaria a Europa nos seus fundamentos societais e, inclusivamente, no aspecto das crenças das pessoas que viram nisso o castigo de Deus.
O autor, neste seu livro, começa por falar da Lisboa antiga com todos os seus privilégios que viria a ser destruída, literalmente, pelo abalo sísmico de 1755. Uma obra que toca nos pontos nevrálgicos do Império e que traz muitos Code QR para nos informar sobre os documentos a que faz referência.
O homem que se distinguiu nesse trágico acontecimento, como sabemos, foi o Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, Sebastião Jose de Carvalho e Melo, Secretário de Estado do Reino, de 1750 a 1777, durante o reinado de D José. Além da sua acção no terramoto de 1755, com a consequente reconstrução da cidade de Lisboa, protagonizou o processo dos Távoras e a expulsão dos Jesuítas de Portugal e colónias.
Representante do despotismo esclarecido em Portugal, que defendia a exaltação do Estado e o poder do soberano, incorporada por ideias iluministas, várias foram as reformas administrativas, sociais e económicas que levou a efeito. Entre elas assinala-se a criação da Real Mesa Censória em 1768, com o objetivo de transferir, na totalidade, para o Estado a fiscalização das obras que se pretendessem publicar ou divulgar no Reino, o que até então estava a cargo do Tribunal do Santo Ofício. aqui
Na sequência do terramoto, vemos intelectuais da época analisar e opinar sobre o que acontecera como, por exemplo, M. de Voltaire, de seu nome, François-Marie Arouet. Ele produz, sobre o assunto, um extenso poema.
Eis um excerto:
"Ó infelizes mortais! Ó terra lastimável!
Na gestão desta calamidade, foi atribuída ao Marquês de Pombal esta frase: Enterrar os mortos e cuidar dos vivos. Contudo, a mesma terá sido da autoria de Pedro de Almeida, 1º Marquês de Alorna.
Voltarei com mais um apontamento.
Abraços, meus amigos
Olinda
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Recordar 1755 - De André Canhoto Costa, 1ª edição Outubro de 2025
imagem: net
Olinda obrigada por compartilhar essas informações, terremotos fazem grandes estragos, Olinda feliz quinta-feira bjs.
ResponderEliminarImportante e actualizado trabalho, querida Olinda, hoje que de norte a sul tudo se revolveu embora sem a penúria que o terramoto trouxe. No entanto é um alerta que convém não esquecer
ResponderEliminarParabéns!
Um beijinho
Boa tarde de paz, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarVisitei o Castelo de São Jorge e pude ver os vestígios ainda existentes com o que sobrou do tal terremoto.
No outro dia, li uma repostagem sobre os riscos de novos terremotos, o Brasil não tinha nem sequer ventos de mais de 200 km por hora e, agora, tem.
Tanta coisa está mudando no planeta...
Cuidar dos vivos sim, mas tomara dê tempo.
Terremotos são catástrofes horrendas.
Que a Terra se acomode logo e cessem cataclimas!
Tenha dias abençoados!
Beijinhos fraternos
Olinda, um belo texto sobre esse evento traumático para o Portugal dos anos 1700. Bom o destaque ao ouro que saia do Brasil para enriquecer a metrópole. Pobre Brasil que desde o início, serviu apenas como colônia de saque.
ResponderEliminarSiempre es bueno conocer de historia de otras tierras. Te mando un beso.
ResponderEliminarBoa tarde Olinda,
ResponderEliminarUm fabuloso momento histórico que aqui partilha connosco.
É sempre um prazer ler os seus escritos culturais, que tanto admiro.
Muito obrigada.
Um beijinho.
Emília
Olá, amiga Olinda.
ResponderEliminarFoi sem dúvida a maior tragédia que aconteceu em Lisboa, este terramoto de 1755.
Segundo os especialistas nesta área, mais ano menos ano voltará a acontecer algo semelhante. Lisboa e a área metropolitana assenta sobre um placa tectónica que, a qualquer altura pode acontecer tragédia semelhante. Não sei se estamos preparados para tamanha catástrofe, se vier a acontecer. As construções estão construídas para proteção de sismos? Penso que não. Esse é o grande problema. Espero que não aconteça. Mas é bem provável que sim. Só não se sabe quando.
Excelente partilha, estimada amiga. É sempre bom avivar memórias mais esquecidas.
Deixo os votos de um feliz fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Querida Olinda,
ResponderEliminarSeu texto me transportou diretamente para aquela Lisboa do século XVIII, rica, exuberante, quase palpável em cada detalhe: os lustres, os tapetes, os xailes, os diamantes que faiscavam nas igrejas… É como se víssemos o esplendor antes do cataclismo, sentimos a tensão silenciosa de um mundo prestes a mudar.
O modo como você apresenta o terramoto de 1755, não apenas como evento físico, mas como ruptura social, cultural e espiritual, é admirável. Gosto do cuidado em mostrar não só os desastres, mas as respostas humanitárias : o Marquês de Pombal, as reformas, o olhar crítico dos intelectuais como Voltaire. Há nesse texto um equilíbrio delicado entre a grandiosidade do passado e a tragédia que o destruiu, deixando espaço para reflexão sobre poder, crença e responsabilidade.
E o toque final, essa frase atribuída a Pombal ou a Pedro de Almeida resume tanto a força do ser humano diante do inesperado: “Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”. Seu relato nos lembra que a história se constrói tanto nas ruínas quanto na reconstrução.
Com admiração,
Fernanda
Tragédia que nos toca a Alma, o Terramoto foi, na verdade, o fim da grandiosidade da Metrópole (Lisboa) daquele tempo. Uma narrativa excelentemente elaborada e que não deixa de nos penalizar.
ResponderEliminarUm bom Documento que aqui é transcrito.
Bem haja, Amiga Olinda, por este pedaço de dor que ainda nos toca nestes dias.
Beijo,
SOL da Esteva
Muito obrigada Olinda pela partilha.
ResponderEliminarTodos devemos conhecer a nossa história. As partes boas e as más, tudo faz parte dos nossos antepassados, do que fomos e do que somos.
Muitos beijinhos
É tão importante esta obra, a sua divulgação e prestar muita atenção a este acontecimento que deveria ter ensinado muito...
ResponderEliminarUm beijo, querida Olinda.
Boa noite, amiga Olinda.
ResponderEliminarPassando por aqui, para desejar uma feliz semana com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
É curioso, tenho este livro na minha lista de compras...
ResponderEliminarO terramoto de 1755 é um acontecimento que me interessa, principalmente na visão histórica do autor.
Boa semana.
Um abraço.
Vivia-se numa opulência desmedida nesses tempos, mesmo ao lado da grande miséria dos súbditos. Veio a fúria da natureza e acabou com esses grandes luxos; no amontoado de corpos não havia desigualdades. Elas continuam, infelizmente e não sei se algum dia acabarão. Obrigada, Olinda, pela lição de história que nos dás, já aprendida nos tempos de escola, mas já esquecidos muitos dos pormenores que nos contas. Não faltarei à próxima aula...
ResponderEliminarUma boa semana, querida Amiga, com saúde e menos chuva
Beijinhos
Emília 🌻 🌻
Uma tragédia imensa que se repetirá em futuro indeterminado.
ResponderEliminarSegundo parece todos os cuidados que deveriam ser tomados não o estão sendo.
Querida Olinda, boa semana e caloroso abraço.
É uma data inesquecível pela destruição e mortes que causou. É bom recordar para sabermos o que precisamos de fazer porque somos demasiado frágeis. Como sempre trouxe-nos uma lição. Obrigada minha Amiga Olinda.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Terremotos e outros abalos sísmicos trazem sempre muita destruição,não só material,como TB mexe com o emocional das pessoas. Por aqui há uns quinze dias um ciclone destruí uma comunidade inteira. Muito triste,sofrido! Abraços
ResponderEliminarhttps://kantinhodáfe.blogspot.com
O homem se ilude e a realidade o vem desiludir. O pior é que a humanidade parece não aprender e segue desatinando por toda parte do mundo. Até quando?
ResponderEliminarUm abraço. Tudo de bom.
APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.
Um fato ocorrido há tanto tempo ,mas que de uma forma ou outra deixou sua lição.
ResponderEliminarTerremotos sempre deixam marcas profundas.
https://kantinhodafe.blogspot.com
Estupefata com a história riquíssima e trágica de Portugal no idos de 1700 querida Olinda!!
ResponderEliminarE saber que foi o Brasil que abasteceu grande parte desse tesouro...Aqui era a corrida pelo ouro nas cidades mineiras de Mariana, Ouro Preto, Sabará e Tiradentes...E esse tesouro foi tudo para Portugal a custo de muito sofrimento dos nosso. Aqui ficamos com a arquitetura requintada nessas cidades, preservadas até hoje nas Igrejas e seus tetos pintados ..Muitos altares também eram feitos de ouro.
Mas voltando ao assunto de Portugal, esse foi um desastre natural realmente devastador que também teve consequências aqui no Brasil, pois o sismo causou um tsunami no litoral nordeste do Brasil causando destruição e mortes. Que coisa não é?
Mais um pedaço da história que atingiu ambos os países, mas desta vez por força da natureza!!
Grata Olinda, eu fiquei muito curiosa com esse evento que vou até estudar melhor esse assunto!!
Beijos e uma semana maravilhosa!! :)))
Niesamowita historia Olindo. Dziękuję że o tym opowiedziałaś. To zarówno piękne jak i smutne. Miałam kiedyś być w Lizbonie, ale niestety coś pokrzyżowało mi plany i nie poleciałam. Pozdrawiam serdecznie z Polski
ResponderEliminarObrigada por compartilhar conhecimento. Adorei!
ResponderEliminarUm desastre natural que continua a acontecer...a destruição do local e das pessoas...
ResponderEliminarBeijos e abraços
Marta