domingo, 26 de outubro de 2025

João Chagas - o jornalista panfletário*

  Anteontem, no banquete oferecido em Santarém aos republicanos de Lisboa, deu-se um episódio ao qual tive a boa fortuna de assistir.

 Ao terminar um brinde, um republicano da região ergueu um viva à República a que todos os assistentes se associaram. Mas, neste momento, o Sr José Relvas, que assistia ao banquete, levantou-se do seu lugar e considerou um momento com serenidade a sala agitada da festa, como parecendo pedir silêncio, que de resto,  logo se fez. No meio do silêncio, então, o Sr Relvas, com a serenidade que é própria do seu porte e das suas palavras, disse:

_Mais alto! Mais alto para que se ouça em Lisboa!

E, levantando a voz, bradou por sua vez:

_Viva a República!

(...)

João Chagas, 1908, in diário da Liberdade, de Aniceto Afonso, pgs 356/357


João Chagas


***


Estamos em 1908, ano em que se deu o regicídio. O rei D.Carlos I e o príncipe herdeiro Luís Filipe foram assassinados, marcando um ponto de viragem na história política portuguesa. 

Desde 1876 que o Partido Republicano vinha fazendo história ganhando ainda mais proeminência com o Ultimato Inglês, que exigia que Portugal retirasse as suas tropas dos territórios entre angola e Moçambique, hoje Zimbabwe e Malawi.

O partido propunha a substituição da monarquia constitucional por uma república liberal parlamentar e vai beber os seus fundamentos na Revolução Francesa, 1789, defendendo os valores da liberdade, igualdade, fraternidade. Não esquecer que a Revolução Francesa foi inspirada pela Revolução Americana, 1776, que defendia a participação dos cidadão nas decisões governamentais.

Entre os vários seguidores de ideais republicanos temos João Pinheiro Chagas, (1863-1925), homem multifacetado, jornalista, escritor, crítico literário, político, diplomata e conspirador, republicano liberal que, por via disso, foi por variadas vezes preso e degredado para a colónia penal de Angola, por um período de 6 anos, donde fugiu. 

A 1 de Novembro de 1891, foi enviado de novo para Angola, fugindo de novo, desta feita para o Brasil, sua terra natal, donde depois regressou tendo fundado a Marselhesa e continuando a sua acção em prol de regime republicano.

Do seu curriculum consta que deixou uma das obras mais importantes, e por isso mesmo mais injustamente esquecida, do jornalismo político, de ideias e de doutrinação democrática publicadas em Portugal, sendo autor de alguns dos textos basilares para a compreensão do processo formativo, evolução e parâmetros ideológicos do republicanismo português e continuou a lutar pela causa republicana.

Da sua experiência do degredo escreveu Trabalhos Forçados (1900) e Diário de um Condenado Político (1913).

Na altura da sua morte, Carlos Olavo expressou no Diário de Notícias (1 de Junho de 1925) a devoção inteira a essa causa: "A figura de João Chagas implica uma página das mais sugestivas da história da República. Direi melhor da pré-história porque a sua acção começa vinte anos antes da implantação do regime. (...) Traçar o perfil político de João Chagas é escrever a história desse período imediatamente anterior à implantação da República no que ela tem de mais emocionante de mais agitado e de mais febril. Em todos os acontecimentos que nele se desenrolaram João Chagas teve sempre um papel dominante." aqui

No passado dia 5 de Outubro homenageou-se a data da Implantação da República. Todos os anos faço menção a essa data, não me esquecendo, normalmente, dos três conspiradores Miguel Augusto Bombarda, Cândido dos Reis e António Machado Santos. 

Se lhe interessar, veja aqui um dos meus textos, escrito em 18 de Janeiro de 2019, com o título, Heróis Trágicos da República.


Bom fim de semana, amigos.

Abraços.

Olinda


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*daqui - biografia no Público


2 comentários:

  1. Siempre es bueno aprender. te mando un beso.

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  2. Que texto tão interessante 📰 adorei conhecer mais sobre João Chagas e a forma como descreveste o seu papel como jornalista panfletário. Uma leitura rica e bem construída 🌿✨

    Com carinho,
    Daniela Silva 💗
    alma-leveblog.blogspot.com – espero pela tua visita no meu blog 🌸

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