sábado, 7 de junho de 2025

Em todas as ruas te encontro...

 



Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco




...Militante e defensor acérrimo do Surrealismo, Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006) dirá mais tarde: “Eu acho que se se é surrealista, não é porque se pinta uma ave, ou um porco de pernas para o ar. 
É-se surrealista porque se é surrealista!”. aqui







====
Poema: daqui
consta do livro Pena Capital (1957)
Cesariny-Serigrafia 1997

Casa da Liberdade de Mário Cesariny- aqui

14 comentários:

  1. Muito linda a poesia escolhida para hoje, Olinda!
    Gostei muito!
    beijos, ótimo fim de semana, chica

    ResponderEliminar
  2. Querida amiga Olinda, bom sábado!
    Nossa! Uma imagem de transfiguração impressionante.
    Fiquei impactada com a comunhão dela.
    De uma cumplicidade impar o poema.
    "Um braço teu me procura."
    Tudo tão intenso e real até...
    Gostei de como representou uma comunhão de dois seres além de corpos tão somente.
    Tenha um abençoado final de semana!
    Beijinhos fraternos de paz e bem

    ResponderEliminar
  3. "[...] Em todas as ruas te encontro
    em todas as ruas te perco"
    Cesariny traça um caminho Poético notável.
    Surrealismo? Nem por sombras.
    Grato pela escolha e partilha, Olinda.


    Beijo,
    SOL da Esteva

    ResponderEliminar
  4. Um belo poema. Os surrealistas possuem uma imaginação fértil e descontroem com arte a realidade.

    ResponderEliminar
  5. Cesariny, que bem lembrado. Gostei.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  6. Belo poema e também gosto do surrealismo, considero lírico viajar para lá do lugar comum.

    Um abraço. Tudo de bom.
    APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.

    ResponderEliminar
  7. Caríssima Olinda,
    Que partilha para o final de semana: Mário Cesariny de Vasconcelos e um poema com uma aura romântica, um amor idealizado para o deleite de todos. Coteja-se os quatorze versos e mais o dístico e neles se apreende que o poeta não revela nenhuma dificuldade para exprimir o sentido que ele atribui à palavra amar. A partir da antítese contida dois primeiros versos, ponto de partida para a revelação de que a sua lembrança não sai dos seus pensamentos. O sujeito poético a vê por todos os lugares que passa, ainda que ela não esteja diante dos seus olhos. Aí entra o papel da memória na criação poética. São as memórias guardadas das experiências que viveram que são trazidas metonimicamente para o poema. O que equivale para a experiência do dia a dia, para o cotidiano, à medida eu circula pela ruas o que vai sendo visto visto é pouco a pouco esquecido, apagado, porém guardado na memória.
    Poeta de mão cheia que sabia o que fazia com as palavras como neste poema de métrica irregular, mas com sonoridade que quase sentimos a cadência dos passos pela calçada da mulher idealizada.
    Aproveite o domingo!
    Beijinhos, minha querida Olinda!

    ResponderEliminar
  8. Gosto muito deste poema e...certamente já notaste como aprecio o Surrealismo :) Eu olho para o Surrealismo como uma (des)construção onírica do Classicismo, o qual também aprecio muito.
    Um beijinho, querida Olinda.

    ResponderEliminar
  9. Minha amiga Olinda,
    Os encontros possíveis em prosa e verso nem sempre acontecem na vida, no cotidiano. Aliás, os poetas são seres que se permitem todo tipo de sofrimento para escrever.
    Nos encontramos e nos perdemos... A vida é efêmera e feita de momentos.
    Um abraço e bom fim de semana!!!

    ResponderEliminar
  10. Me gusta tu poema. Te mando un beso.

    ResponderEliminar
  11. Poema bem escrito gruda na cabeça da gente.

    SPOILER ALERT! 😺

    Nova tirinha publicada.

    Abraços 🐾 Garfield Tirinhas.

    ResponderEliminar
  12. Um belo poema de Cesariny, onde o eu poético se encontra e desencontra com a "coisa amada", numa incessante busca.

    Abraço

    ResponderEliminar