A dois deste mês comemorou-se o Dia do Livro Infantil. A Majo lembrou esse dia com livros infantis de Sophia de Mello Breyner Andresen e eu, num comentário, disse-lhe que ao arrumar a minha estante tinha encontrado alguns que costumava ler à minha filha o que me fez saudades desses tempos. Na verdade, os contos infantis não têm idade, comprazemo-nos nessas leituras e a cumplicidade criada com os nossos filhos não se esquece.
Vem isto a propósito de um artigo que li na revista Maxi, da semana passada, que conta a história de uma avó que lia para a neta em pequenina. Com seis anos ela e a avó divertiam-se a escrever un petit livret com base nas histórias que a menina inventava nos seus passeios ao jardim ou ao campo. Com a idade de 10 anos, resolveram escrever um livro de aventuras, de 190 páginas, tendo como protagonista um coelhinho, o qual tomou o título de "Les aventures de Rouki". Agora a menina pensa continuar a escrever e a avó sente-se feliz por lhe ter transmitido esse gosto pela leitura levando-a a construir histórias.
Transcrevo uma passagem do artigo:
Or, une étude a démontré que les enfants à qui on avait lu des histoires pendant leurs cinq premières anneés avaient un avantage majeur dans l'acquisition de la langue.*
En effet, cela permet d'acquérir très jeune un vocabulaire riche et donne aux enfants moyens d'apprendre plus facilement à lire. De plus, entendre de belles histoires développe l'imagination.
Ontem, nas minhas visitas a alguns blogs que frequento, li um post do Horas Extraordinárias, intitulado, Obrigado a ler, em que nos dá conta de que, em França, uma escola adoptou uma medida extraordinária para combater os baixos índices de leitura:
Excerto:
Depois do toque do fim do recreio da hora de almoço, exactamente às 13h25, estejam em que lugar estiverem dentro da escola, todos têm de pegar num livro e ler durante um quarto de hora (e atenção: até podem já estar sentados na sala de aula!). E não são apenas os alunos que têm esta obrigação, mas todo o pessoal da escola, incluindo auxiliares e professores. A escolha do livro é à vontade do freguês: aconselha-se o aluno a continuar o livro que já começou, mas não há restrições a temas, géneros ou autores, e isso torna o momento especial, porque é leitura obrigatória sem livro obrigatório.
E a autora conclui:
Muitos deles passaram então a comprar mais livros e ir à biblioteca com mais regularidade. Não seria de aplicar isto por cá?
Recuando um pouco no tempo, também li por estes dias na Revista LER, de finais de 2017 princípios de 2018, um texto, cujo excerto abaixo transcrevo, relacionado com a leitura nas escolas secundárias. Continuamos em França.
O prémio Goncourt des Lycéens (...) é um prémio literário organizado em França por uma cadeia de livrarias e pelo Ministério da Educação, criado em 1988 pelo liceu de Rennes e com o selo da Academia de Goncourt. O que significa que, desde essa data, cerca de 18 mil estudantes do secundário, entre os 15 e os 18 anos, apoiados por uma associação de professores (...) leram (e votaram) 220 livros (já agora, isso corresponde a cerca de 40 mil exemplares distribuídos pelas escolas e efetivamente lidos).
Segue-se a indicação dos laureados e o autor termina com duas perguntas:
Portanto, eu perguntava-me: quantos livros leem os jovens nas escolas secundárias portuguesas por ano? Quantos livros leem os professores de Português por ano? FJV
Exemplos a seguir? Talvez, se bem que adaptados às necessidades do ensino e a alguma reforma curricular, não esquecendo os clássicos, os nossos e os da cultura greco-latina que nos serve de modelo e, já agora, autores de outras latitudes que nos enriquecem.
Mas, aqui para nós, tenho reparado que nem sempre os nossos rebentos seguem pela vida exultando-se na presença de um livro. Por vezes, colocamos alguma pressão, querendo impor os nossos gostos o que faz com que achemos que eles não lêem o que deveriam ler. Eu já aprendi a relativizar e a aceitar que cada um lê de conformidade com os seus interesses e que todas as leituras são leituras. Esquisito isto? É a vida! :)
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*l'étude - Université de Stavanger en Norvège, octobre 2015
dans Maxi - Nº 1692 du 1er au 7 avril 2019 ( Article pg.34 "Tout le monde aime des histoires - Comment partager votre passion avec les enfants?")
Revista LER ( inverno 2017-2018)- Carta do editor - pg 3